Meu produto deve seguir uma guideline ou ter identidade própria?

Bruno Castro
4 min readFeb 20, 2016

Se você é responsável por desenhar a interface de novos produtos ou tem um produto e pretende desenvolver um aplicativo mobile, você provavelmente já teve essa dúvida.

O mais importante a dizer é que, uma coisa não exclui a outra. Seu produto pode seguir as guidelines de um sistema e preservar uma identidade muito consistente ou você pode, também, optar por ter uma identidade que não segue o look and feel da plataforma adotada. Spotfy e Netflix são excelentes exemplos (voltamos a isto mais adiante). Mas lembre-se: a identidade de seu produto não é afetada pela adoção de uma guideline.

Mas afinal, por quê seguir guidelines?

Empresas como Google, Apple e Microsoft disponibilizam diretrizes que foram desenvolvidas seguindo boas práticas de design, desenvolvimento e usabilidade para guiar desenvolvedores e designers. Isso significa que caso você adote estas especificações em seus projetos, todos terão suas vidas simplificadas:

  • O usuário terá uma baixa curva de aprendizado, dado que a aplicação do seu produto seguirá uma série de padrões de uso os quais ele já está acostumado. Será fácil navegar por toda a interface e identificar todos os recursos.
  • Os desenvolvedores poderão contar com bibliotecas e componentes desenvolvidos de forma otimizada para cada sistema. Isso economizará o tempo deles e reduzirá a quantidade de testes feitos pela equipe de QA, dado que muito destes componentes estão prontos e testados.
  • O designer e o UX também contarão com vantagens: ao utilizar as interações e interfaces do guia de componentes, eles pouparão algum esforço em não projetar tantos padrões da interface, dado que muitos serão apropriados do sistema.

Esse mix de vantagens é tão bom, que eu poderia encerrar aqui esse post convicto de que você implementaria guidelines, mas há outras tantas vantagens em não segui-las que você precisa considerar.

O outro lado: vantagens em projetar seu próprio padrão de interface.

Há uma série de apps que desenvolvem suas próprias interfaces e proporcionam ao usuário uma experiência simples e agradável. Pode parecer capricho da equipe de designers, mas isto pode ser na verdade uma necessidade do produto.

As guidelines são concebidas para interações conhecidas em experiências de uso habitual. Mas seu produto pode exigir uma interação pouco usual ou ainda não mapeada em especificações. O Snapchat, por exemplo, tem uma interface muito atrelada a experiência de seu produto. Desde um timer para mensagens que se deterioram com o tempo, à legenda para fotos ou vídeos que são exibidas emfullscreen, todos esses detalhes são fundamentais para construir o sentido de mensagens efêmeras e multissensoriais.

Há outro bom motivo para desenvolver uma interface que não segue os padrões do sistema: Caso você tenha um produto em que a experiência é compartilhada em múltiplos dispositivos, o usuário pode ter a oportunidade de utilizar seu serviço em múltiplos devices em um curto lapso de tempo, se não, simultaneamente. Esse é o caso do Spotfy e Netflix (citados no início do artigo). Nesta situação, é mais importante garantir que o usuário utilize os mesmos menus, gestos, atalhos e botões indiferente de onde ele esteja: computador, celular, carro ou etc… Em ambos os produtos , a experiência é tão fluida que é possível continuar uma transmissão em um dispositivo, do mesmo ponto em que se parou no o outro.

Um terceiro motivo para não seguir as guidelines, é o branding. Ter uma interface atrelada a identidade da marca pode ser justificada quando isto causa uma sensação boa no consumidor/usuário, que teria associação imediata as qualidades da marca. Um app da NIKE, por exemplo, poderia ganhar minha simpatia no primeiro contato, caso lembre a estética do tênis que eu gosto ou da embalagem.

Qualquer dos motivos anteriores são suficientes para justificar a não adoção de uma guideline, mas é necessário muito critério. Uma série de cuidados com interações, otimização e acessibilidade, foram adotados ao desenvolver os padrões de uma guideline e se vamos desenvolver nossa própria experiência de uso, temos que nos comprometer a manter a mesma qualidade proporcionada por esta.

“É muito fácil ser diferente, mas muito difícil ser melhor.”
Jonathan Ive

Seja qual for sua decisão tenha em mente as sábias palavras de Ive, e busque sempre escolher o que será o melhor para seus clientes e/ou usuários. Adotando ou não os padrões do sistema, construa experiências mais ricas e atraentes. E lembre-se: não é por adotar padrões de sistema que você abrirá mão da identidade da marca.

Este texto foi publicado originalmente no Linkedin Pulse.

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Bruno Castro

Product Designer especialist at Zenvia, maker and guitarrist